Depressão pós-parto

Depressão pós-parto

Texto de Melina Caldani

A depressão pós-parto é um transtorno de humor que pode afetar as mulheres após o parto. Não tem uma causa única, mas provavelmente resulta de uma combinação de fatores físicos e emocionais.

O bebê nasce, tão desejado, tão esperado. Ali nasce a mãe. O senso comum cria a expectativa do comercial de margarina. Mãe e bebê sorridentes, felizes, em plena harmonia, haja o que houver, de forma incondicional.

No mundo real, tem isso. Mas têm, também, as demandas de sono, fome, colo, atenção; tem o choro que diz tanto mas que ainda é uma incógnita. O espelho mostra uma outra mulher, ainda com formas diferentes, seios mais fartos que jorram leite e podem doer.

As noites podem ser insones. Os palpites se somam e podem causar um sentimento feroz de incapacidade.

Aos poucos, o lugar de sonho e sorrisos que acompanharam a nova família por meses começam a ficar nebulosos. “O bebê é lindo, há tanto amor, por que, então, eu não me sinto feliz? Eu deveria estar feliz, sorrindo, dando conta, amando incondicionalmente, não?”

Depressão pós-parto O espelho mostra uma outra mulher, ainda com formas diferentes, seios mais fartos que jorram leite e podem doer.

Depressão pós-parto

O espelho mostra uma outra mulher, ainda com formas diferentes, seios mais fartos que jorram leite e podem doer.

Baby blues

Existe um período esperado e normal nos primeiros dias após o nascimento do bebê em que a mulher pode sentir melancolia, vontade súbita de chorar e alterações no humor. É conhecido como “baby blues” ou “blues puerperal”.

Liga-se à avalanche hormonal e à nova construção que a mulher passará a fazer sobre si mesma e seu mundo, em decorrência da maternidade. Não há um tempo certo de duração, mas costuma ir melhorando em poucas semanas.

É necessário ter atenção e empatia mas estar ciente de que o baby blues “normal” não deve comprometer a qualidade de vida e os relacionamentos da mulher.

Contudo, parte das mulheres atravessará uma tempestade no momento em que poderiam estar vivendo em plenitude as mudanças da maternidade.

Uma sensação de vazio, impotência, incapacidade e tristeza limitante e constante. Associado ou não com negligência em relação a si e aos cuidados com o bebê, insônia, alterações de apetite, dificuldade de vincular-se ao bebê, podem caracterizar uma doença, a depressão pós-parto.

É uma doença comum e silenciosa, porque ainda é um tabu: estima-se que afeta cerca de 2 milhões de brasileiras.

Engana-se quem pensa que apenas no período de 40 dias que se segue ao nascimento é que a mulher vivencia o puerpério.

Em verdade, ele pode alcançar muitos mais meses. Por isso, as novas mães estão em fase de risco psíquico por um tempo muito maior. Cerca de 2 anos facilitado pelos hormônios, sim, mas não só por isso.

Histórico de vida, a forma como ocorreu e caminhou a gestação, dificuldades no relacionamento, são todos fatores de risco à depressão pós-parto.

Depressão pós-parto

De forma diferente do blues puerperal, a depressão pós-parto é diagnosticada por profissional. Precisa de acompanhamento especializado pois esse estado oferece risco à saúde e à vida da mãe (e compromete os cuidados com o bebê). Com tratamento adequado é possível que o quadro regrida em poucos meses.

A família pode ficar atenta, mas, sobretudo, estar presente, dando suporte para que a mulher vivencie sentimentos e dúvidas que, muitas vezes, são ambíguos. Sentir-se diferente faz parte do processo de se acomodar no novo papel de mãe.

É importante lembrar que viver dúvidas e momentos de tristeza não diz respeito à quantidade de amor. Pode ser também um momento excepcional de auto-conhecimento e conexão.

Garantir que a mulher tenha um espaço emocional seguro para viver essas ambivalências sem julgamento é o melhor que podemos fazer por essa mulher.

Sugestão: documentário “Mães e Alma e Cuia” de Victoria Libbos. Nesta obra, a londrinense dá voz às mães sobre vivências e temas tabus na maternidade: https://www.youtube.com/watch?v=LcfMYWtQkfM

 

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